Uma coisa interessante que aprendi fazendo uma disciplina de
psicanálise é que esta teoria coloca que é a falta que nos move; é a busca por
suprir algo que não sabemos (e nunca iremos, de fato, saber) que nos faz
construir estruturas que cercam nossa vida: trabalho, estudo, relacionamentos,
critérios de consumo... Ou, se mal conduzida, pode tornar-se causa de uma série
de patologias emocionais.
Em outro momento, em outra sala de aula, meu professor da
disciplina de Imagens, Mito e Discurso discorreu sobre o significado da luz do sol
nos mitos de civilizações antigas. Quando nessas histórias se fala da luz ou do
próprio sol, está-se, na verdade, fazendo referência a um conhecimento sagrado,
proibido e fora do alcance dos mortais. Aquele que infringe regras e ousa não
só roubar um pedacinho de luz, mas partilhá-lo com os seus é o personagem
considerado subversivo, revolucionário – o “herói”.
Olhei para o céu e vi o sol tão longe... Mas um pedacinho de
luz chegou a mim e eu o guardei. Aconteceu dessa forma comigo: em meio a uma
campanha eleitoral; mas pode acontecer de muitas formas com outras pessoas. O
importante é não deixar esse facho de luz se perder.
Ainda que nunca venhamos saber qual é esta verdadeira falta,
que estaria situada nos recônditos mais profundos do inconsciente, é possível
definir um caminho onde as tentativas de supri-la permeiem ações que fortaleçam
mente e emoção, que a cada novo dia nos ensine algo novo e maravilhoso nessa tão
singular condição de ser não só humano, mas de “ser social”.
Então é preciso guardar a centelha de sol que nos abraça,
cultivá-la com carinho e dividi-la com os que estão ao nosso redor, para que
assim ela se multiplique e se torne cada vez mais intensa, pois com essa luz
inspiradora podemos forjar um poder que transforma realidades, que nos mostra
todo dia, dia a dia, que nada, mas nada mesmo, é impossível de mudar.
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