É engraçado como aquele que a gente cativou pode voltar
depois de tanto tempo longe... Às vezes
a distância, quando persiste por anos, causa uma sensação de que a amizade
acabou e a gente até passa por uma espécie de luto. Lamentamos não ter mais
aquele amigo para emprestar o ombro aonde muitas lágrimas um dia chegaram a
cair; ou para celebrar junto um acontecimento alegre, uma conquista importante.
E aí algo acontece; um desvio se apresenta... A coragem
necessária vem, a gente segue aquele rumo incerto e algo muda. E é como se essa
coragem se desdobrasse e te inspirasse a agir porque você sempre soube que
pegar aquele desvio implicaria necessariamente em procurar aquela pessoa. Você
tinha que dar o primeiro passo porque foi exatamente você – por razões que hoje
já não fazem o menor sentido – que deu inúmeros passos para trás, afastando-se
do amigo que já havia percorrido com você tantos caminhos na mesma estrada.
E por um momento parece que não existiram hiatos, que o
tempo não passou. Ele está ali, diante de você, contando coisas de sua vida e
das traquinagens que os filhos andam aprontando, como se fosse uma ocasião
trivial. Dizem que só o amor consegue criar pontes assim, que atravessam não só
as distâncias, mas o tempo também, resgatando uma afinidade e um sentimento de “tudo
bem, agora eu posso ser eu”, de falar do cotidiano e ser bom porque quem está
ouvindo te entende, te apóia e não te julga (por mais que discorde de um monte
de bobagens de você conte).
Tempo e distância podem fazer muitas relações mudarem, mas
esse amor consegue criar uma atmosfera de eterno. Não se pode esperar que as
coisas voltem a ser como antes porque esse estado de “ser como antes” não
existe, é uma fantasia da nossa cabeça. Mas talvez seja possível recomeçar de outra
forma, do ponto em que (se) parou.
São pessoas assim, esses irmãos de pai e mãe diferentes, que
dão cor e aroma especiais à nossa vida. Há muitas “frases feitas” por aí
dizendo que amigo é o irmão que a gente escolhe, mas eu não acredito nisso. O
amigo que, ao seu lado, faz nascer esse tipo de amor que transcende tempo,
espaços e erros não se escolhe, se reconhece.
E assim, meus desvios fizeram com que eu pudesse novamente
contar com a presença de alguém que tanto me fez falta, que sempre foi, mesmo
quando eu não pedia, o irmão mais velho, conselheiro, aquele que me puxava de
volta para a realidade quando eu ficava perdida em devaneios ou me acalmava com
a voz tranquila durante as mais difíceis perdas.
Fez falta. A gente sobrevive longe? Sem contato? Claro, a
gente sobrevive diante das mais áridas situações. Mas não é tão legal, porque é
sobreviver. Não se trata aqui de uma necessidade básica, fisiológica, mas de um
querer incondicional da emoção.