quinta-feira, 20 de setembro de 2012

As pontes do caminho


É engraçado como aquele que a gente cativou pode voltar depois de tanto tempo longe...  Às vezes a distância, quando persiste por anos, causa uma sensação de que a amizade acabou e a gente até passa por uma espécie de luto. Lamentamos não ter mais aquele amigo para emprestar o ombro aonde muitas lágrimas um dia chegaram a cair; ou para celebrar junto um acontecimento alegre, uma conquista importante.

E aí algo acontece; um desvio se apresenta... A coragem necessária vem, a gente segue aquele rumo incerto e algo muda. E é como se essa coragem se desdobrasse e te inspirasse a agir porque você sempre soube que pegar aquele desvio implicaria necessariamente em procurar aquela pessoa. Você tinha que dar o primeiro passo porque foi exatamente você – por razões que hoje já não fazem o menor sentido – que deu inúmeros passos para trás, afastando-se do amigo que já havia percorrido com você tantos caminhos na mesma estrada.

E por um momento parece que não existiram hiatos, que o tempo não passou. Ele está ali, diante de você, contando coisas de sua vida e das traquinagens que os filhos andam aprontando, como se fosse uma ocasião trivial. Dizem que só o amor consegue criar pontes assim, que atravessam não só as distâncias, mas o tempo também, resgatando uma afinidade e um sentimento de “tudo bem, agora eu posso ser eu”, de falar do cotidiano e ser bom porque quem está ouvindo te entende, te apóia e não te julga (por mais que discorde de um monte de bobagens de você conte).

Tempo e distância podem fazer muitas relações mudarem, mas esse amor consegue criar uma atmosfera de eterno. Não se pode esperar que as coisas voltem a ser como antes porque esse estado de “ser como antes” não existe, é uma fantasia da nossa cabeça. Mas talvez seja possível recomeçar de outra forma, do ponto em que (se) parou.

São pessoas assim, esses irmãos de pai e mãe diferentes, que dão cor e aroma especiais à nossa vida. Há muitas “frases feitas” por aí dizendo que amigo é o irmão que a gente escolhe, mas eu não acredito nisso. O amigo que, ao seu lado, faz nascer esse tipo de amor que transcende tempo, espaços e erros não se escolhe, se reconhece.

E assim, meus desvios fizeram com que eu pudesse novamente contar com a presença de alguém que tanto me fez falta, que sempre foi, mesmo quando eu não pedia, o irmão mais velho, conselheiro, aquele que me puxava de volta para a realidade quando eu ficava perdida em devaneios ou me acalmava com a voz tranquila durante as mais difíceis perdas.

Fez falta. A gente sobrevive longe? Sem contato? Claro, a gente sobrevive diante das mais áridas situações. Mas não é tão legal, porque é sobreviver. Não se trata aqui de uma necessidade básica, fisiológica, mas de um querer incondicional da emoção.



sábado, 15 de setembro de 2012

Peguei um desvio, olhei para cima e vi o sol.

Uma coisa interessante que aprendi fazendo uma disciplina de psicanálise é que esta teoria coloca que é a falta que nos move; é a busca por suprir algo que não sabemos (e nunca iremos, de fato, saber) que nos faz construir estruturas que cercam nossa vida: trabalho, estudo, relacionamentos, critérios de consumo... Ou, se mal conduzida, pode tornar-se causa de uma série de patologias emocionais.

Em outro momento, em outra sala de aula, meu professor da disciplina de Imagens, Mito e Discurso discorreu sobre o significado da luz do sol nos mitos de civilizações antigas. Quando nessas histórias se fala da luz ou do próprio sol, está-se, na verdade, fazendo referência a um conhecimento sagrado, proibido e fora do alcance dos mortais. Aquele que infringe regras e ousa não só roubar um pedacinho de luz, mas partilhá-lo com os seus é o personagem considerado subversivo, revolucionário – o “herói”.

Olhei para o céu e vi o sol tão longe... Mas um pedacinho de luz chegou a mim e eu o guardei. Aconteceu dessa forma comigo: em meio a uma campanha eleitoral; mas pode acontecer de muitas formas com outras pessoas. O importante é não deixar esse facho de luz se perder.

Ainda que nunca venhamos saber qual é esta verdadeira falta, que estaria situada nos recônditos mais profundos do inconsciente, é possível definir um caminho onde as tentativas de supri-la permeiem ações que fortaleçam mente e emoção, que a cada novo dia nos ensine algo novo e maravilhoso nessa tão singular condição de ser não só humano, mas de “ser social”.

Então é preciso guardar a centelha de sol que nos abraça, cultivá-la com carinho e dividi-la com os que estão ao nosso redor, para que assim ela se multiplique e se torne cada vez mais intensa, pois com essa luz inspiradora podemos forjar um poder que transforma realidades, que nos mostra todo dia, dia a dia, que nada, mas nada mesmo, é impossível de mudar.